Josep Borrell. EFE/Arquivo/Pedro Puente Hoyos

Borrell afirma que democracia foi atacada durante presidência de Bolsonaro

Bruxelas (EFE).- O alto representante para os Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), Josep Borrell, afirmou nesta quinta-feira que os ataques à democracia brasileira remontam a um longo caminho e que durante a presidência do ex-presidente Jair Bolsonaro “as fundações de uma sociedade pluralista e de instituições democráticas foram continuamente atacadas”.

“O ataque às principais instituições do Brasil não começou no domingo passado. São o resultado de anos de polarização política”, disse Borrell em novo artigo publicado no seu blog.

O político socialista espanhol comentou que “durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro as fundações de uma sociedade pluralista e de instituições democráticas foram continuamente atacadas”.

“Os partidos políticos foram demonizados, o poder judicial foi acossado, a imprensa foi vilipendiada e a sociedade civil foi marginalizada nos grandes debates”, analisou, lamentando que as redes sociais tenham agravado a divisão da sociedade brasileira.

“Sabemos que tais bolhas de informação alimentam as ‘guerras de cultura’ e as políticas de identidade”, acrescentou.

Borrell recordou que, logo após ter sido eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a intenção de “curar as feridas da sociedade” e unir novamente o país.

“Isto é mais necessário agora, mas provavelmente também mais difícil”, considerou Borrell, uma vez que “há forças políticas dispostas a alimentar a radicalização e o caos em um esforço flagrante para forçar a intervenção das forças armadas”.

Com o retorno da ordem a Brasília, o chefe da diplomacia da UE advertiu, no entanto, que muitas questões permanecem sobre as causas do que aconteceu no domingo passado, quando bolsonaristas invadiram, depredaram e saquearam as sedes dos Três Poderes.

Na opinião de Borrell, o que aconteceu em Brasília é muito semelhante ao ataque ao Capitólio em Washington, em janeiro de 2021.

“O fato de duas grandes democracias da América terem sofrido um ataque físico às principais instituições que encarnam a sua ordem constitucional deveria nos dar uma pausa para pensar”, argumentou.

“A teoria da conspiração e as notícias falsas desempenham claramente um papel central nestes processos, e o monitoramento e a regulação dos conteúdos nas redes sociais e plataformas digitais voltou aos holofotes pela sua ausência no período que antecedeu os eventos do fim de semana passado”, comentou.

Borrell advertiu que as desigualdades “podem ameaçar esvaziar a democracia e destruir a confiança no bem comum”, e advertiu que “seria errado e complacente acreditar que somos imunes a estas dinâmicas” na União Europeia.

“Estas dinâmicas antiliberais são frequentemente alimentadas do exterior por poderosos e bem dirigidos esforços de manipulação de informação por parte de regimes autoritários”.

O político espanhol se referiu particularmente à Rússia, “cujo objetivo é simplesmente destruir a democracia na Europa e em outros lugares”, e também mencionou “partidos de extrema direita e regimes autoritários em todo o mundo”. EFE