São Paulo (EFE) – Em meio à maior megalópole da América Latina, cercada de asfalto e concreto, se escondem 700 mil metros quadrados de Mata Atlântica, um refúgio para mais de 120 espécies de animais que, na Reserva Coral Tangará, podem respirar o ar mais puro da região e desfrutar de duas nascentes de águas cristalinas.
Localizado no município de Mauá, no ABC paulista, e bem próximo a uma das maiores fábricas de tintas e revestimentos do mundo, pertencente à multinacional holandesa AkzoNobel, o bioma mais devastado e ameaçado do Brasil encontrou na fábrica vizinha uma grande aliada para sua recuperação e conservação.
Extensivamente destruída pela expansão das atividades humanas desde o século XVI, a Mata Atlântica, que já cobriu uma área 3,6 vezes maior do que a Alemanha, hoje representa apenas 15% do território brasileiro.
O bioma, formado por florestas húmidas tropicais, abriga a maior diversidade de árvores por hectare do mundo e mais de 20 mil espécies de flora e fauna, das quais quase 2 mil estão ameaçadas de extinção.
Segundo dados da ONG Fundação SOS Mata Atlântica, essas florestas respondem por 80% da economia brasileira e abrigam quase 70% da população do país (145 milhões de pessoas), além dos principais centros urbanos e indústrias, contexto ameaça sua conservação ao mesmo tempo em que a torna essencial.
A edição 2023 do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, produzido pela ONG e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), identificou uma perda de 20.075 hectares de florestas nativas entre 2021 e 2022, o que corresponde à emissão de 9,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.
Importância das áreas protegidas
Por isso, a ONG defende a criação de unidades de conservação e reservas particulares e a articulação entre governos locais e proprietários de terras, já que 78% das terras da Mata Atlântica são particulares, como é o caso da Reserva Coral Tangará.
De acordo com a Fundação, apenas cerca de 10% da Mata Atlântica faz parte de diferentes tipos de áreas protegidas, mas isso já representa a conservação de 1,5 gigatonelada de CO2 equivalente em remanescentes florestais.
Para a organização, a proteção legal e ordenada em áreas municipais públicas ou privadas “proporciona a manutenção dos ecossistemas e de espécies, provê serviços ecossistêmicos, além de contribuir para a conectividade de áreas e para a restauração ecológica”.
Exemplo de desenvolvimento sustentável
Um exemplo disso é o trabalho da AkzoNobel em sua reserva, que representa 10% da mata nativo do município de Mauá.
Nos últimos 10 anos, a empresa investiu R$ 2,4 milhões na reserva, onde realizou um trabalho de restauração com foco na remoção de eucaliptos para o replantio de espécimes nativos.
Dessa forma, foi possível melhorar a qualidade da água, evitar incêndios, formar um corredor biológico e manter o ciclo da água.
“As mudanças que observamos foram principalmente em termos de biodiversidade e regulação hídrica”, disse a gerente de sustentabilidade da AkzoNobel, Flávia Takeuchi, em entrevista à Agência EFE.
Takeuchi explicou que a água é uma das principais matérias-primas da fábrica e que era essencial adotar medidas para conservar o recurso.
“Por isso investimos na geração de água, que vem da reserva. Sabemos que a qualidade da água proveniente dos eucaliptos não era muito boa quando comparada à água proveniente da vegetação nativa”, acrescentou.
Além do projeto de restauração, conservação, manejo e monitoramento florestal, a empresa também realiza um trabalho de educação ambiental com crianças de escolas públicas locais, que podem fazer visitas guiadas à reserva.
Outra medida adotada pela empresa em Mauá foi a criação de uma estação de tratamento de efluentes.
A estrutura, que custou cerca de US$ 2,6 milhões, submete a água a processos físicos, químicos e biológicos de purificação que permitem sua reutilização na produção de tintas e revestimentos, possibilitando que a fábrica atinja um índice de 100% de reutilização.
Responsabilidade de todos
Takeuchi enfatizou que o desenvolvimento desses projetos foi um grande desafio para a AkzoNobel, principalmente porque envolvem atividades alheias às áreas de conhecimento em que a empresa tem experiência.
“Tivemos que sair de nossa zona de conforto, mas queremos mostrar o caminho e inspirar outras empresas a fazer o mesmo”, contou Takeuchi.
Nesse sentido, ela também destacou que os setores público e privado e as comunidades locais devem um esforço coletivo para avançar rumo a um futuro mais sustentável.
“Temos que fazer um esforço, não apenas o setor público, mas também o setor privado e a comunidade. Todos nós temos um papel a desempenhar na conservação (do meio ambiente”, concluiu. EFE