Uma das metas da visão Mundo sem Resíduos, da Coca-cola, é dar destinação adequada ao equivalente a cada embalagem que a empresa coloca no mercado até 2030. EFE/Rodrigo Peixoto/Divulgação/FEMSA

Infraestrutura é desafio para reciclagem no Cone Sul, diz Coca-Cola

São Paulo (EFE) – Um dos maiores desafios da América do Sul para avançar no setor da reciclagem é a infra-estrutura de coleta, separação e processamento de resíduos, o que atrasa a transição da região para uma economia mais verde e circular, segundo a Coca-Cola.

O gerente de sustentabilidade da Coca-Cola para o Cone Sul, Rodrigo Brito, também destacou, em entrevista à Agência EFE, a ausência de uma cadeia de transformação que promova a circularidade e a concentração dessas atividades nos grandes centros urbanos.

“Cada país da região tem uma realidade diferente e há aspectos positivos e negativos em todos eles (…) Argentina e Chile nos inspiram com a cultura do uso de embalagens retornáveis, enquanto o Brasil está mais avançado na reciclagem”, explicou Brito.

Nesse sentido, ele lembrou que a Coca-Cola atua em parceria com governos locais, comunidades, ONGs e empresas de todo o mundo desde a década de 1980 para gerar um impacto socioambiental positivo através de iniciativas sustentáveis, e o que determina essa estratégia são as particularidades de cada país.

“Hoje estamos trabalhando muito mais com a cadeia, com as grandes associações de catadores, com os centros de coleta, com a indústria de reciclagem, para que possamos transformar isso em escala e garantir a circularidade”, explicou.

“Dependemos da infra-estrutura, da geografia, das leis, dos hábitos (da população), da coleta seletiva, dos atores encarregados da separação e transformação (dos resíduos), para que ocorra a circularidade (…) É um desafio para qualquer empresa, mas a cada ano fazemos progressos junto com as cadeias locais”, acrescentou Brito.

Investimentos e metas ambiciosas para um mundo sem resíduos

Para acelerar e promover as iniciativas socioambientais realizadas pela empresa desde a década de 1990, a Coca-Cola anunciou em 2018 o compromisso global “Mundo sem Resíduos”, que estabelece metas internas e externas para compensar totalmente os impactos causados pelas atividades da multinacional até 2030.

“O bom do Mundo sem Resíduos é que ele transforma cadeias e temas complexos em quatro números muito simples que são fáceis de comunicar e monitorar. Nossa primeira meta é que 100% de nossas embalagens sejam recicláveis até 2030, e hoje já atingimos 99% no Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai)”, ressaltou Brito.

As outras metas estabelecem que 50% de todas as embalagens deverão ser produzidas a partir de material reciclado e que 25% do volume de vendas corresponderá a embalagens retornáveis até 2030.

Para aumentar a disponibilidade de embalagens retornáveis na América Latina, a Coca-Cola também investirá cerca de US$ 500 milhões entre 2021 e 2023.

A multinacional também se comprometeu a coletar e reciclar 100% das embalagens primárias que comercializa até 2030, e está implementando a utilização de uma garrafa única, o que aumenta a flexibilidade de produção de retornáveis.

Além disso, a Coca-Cola está eliminando gradualmente o uso de PET não transparente, que tem valor e utilidade menores para o mercado de reciclagem.

“Cumprir as metas do Mundo sem Resíduos é importante porque tem um impacto na sociedade e no meio ambiente como um todo, e ajuda a empresa a avançar (…) Nós olhamos por uma perspectiva de perenidade, de sustentabilidade, de reputação, de fazer a coisa certa para que o negócio continue e seja saudável”, argumentou.

Cooperação, uma estratégia fundamental para avançar

Para atingir suas ambiciosas metas, e também aquelas estabelecidas por governos e ONGs em prol do meio ambiente e da sociedade, Brito enfatizou a importância de trabalhar em conjunto com comunidades e governos locais, e também com outras empresas.

Ele explicou que questões relacionadas aos critérios da ESG, tais como economia circular, água e capacitação econômica, são consideradas pré-competitivas.

“Não faz sentido duplicar custos e esforços para diminuir o impacto no final (…) Por isso, a gente busca ações mais coletivas, porque aí podemos somar e colocar mais dinheiro na ponta, coordenar esforços e aprender junto”, afirmou ele.

O especialista também reconheceu que, dada a importância da marca, a Coca-Cola deve realizar ações de alto impacto que promovam mudanças reais no meio ambiente e que sirvam de exemplo e inspiração para outras empresas, e também para o público.

“Não podemos pedir ao consumidor que mude seus hábitos se não estamos fazendo o que temos que fazer, então devemos ser um exemplo para outras indústrias, para o público, para os funcionários, para os investidores”, defendeu Brito.

Projetos de destaque no Cone Sul

Para Brito, em todos os países do Cone Sul, o que mais mudou com relação ao perfil dos projetos desde o anúncio do “Mundo sem Resíduos” é que, antes, a maioria deles se direcionava à conscientização e à mobilização popular.

Entre esses projetos, se destacam iniciativas de alto impacto como “Reciclar para o Brasil”, lançada em 2017 em parceria com a Ambev e a Associação Nacional de Recicladores (ANCAT) e que agora é o maior programa privado de apoio à reciclagem no país.

Atualmente, a plataforma, que fornece consultoria técnica e investimentos diretos em qualificação profissional e desenvolvimento econômico, reúne 18 empresas que apoiam diretamente 233 cooperativas e associações de catadores em 161 cidades.

Entre 2017 e 2022, como parte do projeto, foram recicladas 550.000 toneladas de materiais recicláveis, com um faturamento de R$ 344 milhões, convertido em renda para catadores de lixo.

No Chile, Brito destacou o trabalho da iniciativa Conecta, Recicla e Colabora, realizado em conjunto com La Ciudad Posible, fabricantes e organizações que atuam com coleta e reciclagem no país.

Lançado em 2021, o projeto consiste em uma rede única que reúne recicladores de base, gerentes e compradores, com o objetivo de elevar a taxa de recuperação do PET de 17% para 90%.

No primeiro ano de funcionamento, a iniciativa atingiu o marco de seis mil toneladas de PET coletados. EFE