O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte. EFE/Arquivo/STEPHANIE LECOCQ

Governo da Holanda pede desculpas por mais de 250 anos de escravidão

Haia (EFE).- O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, se desculpou nesta segunda-feira, em nome do governo do país, pelo papel do Estado durante o período da escravidão local, que perdurou de 1621 e 1873.

“A escravidão foi um crime de lesa humanidade”, afirmou o líder do Executivo, em discurso no Arquivo Nacional, em Haia.

Rutte garantiu que o sistema infringiu “sofrimentos indescritíveis”, com isso, a escravidão deve ser reconhecida e condenada “nos termos mais claros”.

“Durante séculos, o Estado holandês e seus representantes permitiram, fomentaram, mantiveram e se beneficiaram da escravidão. Pessoas se tornaram mercadorias, exploradas e abusadas”, lamentou o premiê.

“Hoje, em nome do governo holandês, peço desculpas pela ação do Estado holandês no passado”, completou.

Rutte admitiu que durante muito tempo ele próprio pensou que “não é possível assumir a responsabilidade de maneira significativa”, por algo ocorrido no passado e de que não se foi testemunha em pessoa, o que considera uma ideia equivocada, porque os “séculos de opressão e exploração” ainda afetam a sociedade atual.

O comércio legal de escravos terminou em 1814, mas seguiu nas colônias holandesas até 1873.

“Mais de 600 mil mulheres e crianças africanas escravizadas foram enviadas ao continente americano em condições espantosas, por holandeses traficantes de escravos. Foram separados de suas famílias, desumanizados, transportados e tratados como gado”, lamentou Rutte.

Tudo acontecia sob a autoridade governamental da Companhia das Índias Ocidentais, enquanto que, na Ásia, de 600 mil a 1 milhão de pessoas foram traficadas dentro das áreas controladas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, entre os séculos 17 e 19.

“Os números são incríveis. O sofrimento humano por trás disso é ainda mais inimaginável. São incontáveis as histórias e testemunhos de sobreviventes que provam como a crueldade e a arbitrariedade não tinham limites no sistema escravista”, disse o premiê.

Manifestação polêmica

O pedido de desculpas veio após décadas de apelos de organizações que representam descendentes de escravos, que lamentaram a data em que o mesmo aconteceu, que não tem algum significado especial no país.

Ativistas queriam que o gesto acontecesse em 1º de julho, na comemoração da abolição formal da escravidão no Suriname e nas Antilhas Holandesas, em 1963, embora ainda tenha ocorrido trabalho forçado por mais dez anos em plantações.

Também houve críticas pela falta de envolvimento das comunidades escravizadas tanto no processo, como no conteúdo do discurso de Rutte.

O premiê garantiu hoje que a intenção dele não é “apagar essas páginas com algumas desculpas” e que o gesto é “uma vírgula, não um ponto final” no assunto. EFE