O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov. EFE/Arquivo/MAXIM SHEMETOV / POOL

Rússia alerta para o maior risco de conflito nuclear das últimas décadas

Moscou (EFE).- O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, alertou nesta quarta-feira que o risco de um conflito nuclear no mundo é o maior em várias décadas, em alusão às tensões com o Ocidente sobre a campanha militar russa na Ucrânia.

No âmbito do clube de debates de Valdai, Ryabkov assegurou que o risco de conflito nuclear “é o maior que tivemos nas últimas décadas”, embora a Rússia continue a afirmar que “o mundo deve estar livre e a salvo da ameaça nuclear”.

O diplomata russo admitiu que a Rússia está agora “de fato, em conflito aberto com os Estados Unidos”, a quem acusou de “praticamente” fazer parte do conflito na Ucrânia.

Por esta razão, a Rússia não pode se comportar “como antes” e a consequência direta é a suspensão do último tratado de desarmamento nuclear em vigor entre a Rússia e os EUA, o START III, também chamado de Novo START.

Além disso, Ryabkov considerou que carece totalmente de “senso político” a possibilidade de Moscou regressar ao cumprimento do START III, cuja aplicação foi suspensa pelo presidente russo, Vladimir Putin, no mês passado.

“Era necessário ter chegado a um acordo antes, agora isso é impossível. Do ponto de vista legal, o tratado foi totalmente suspenso da nossa parte”, ressaltou, acrescentando que, ao avaliar o futuro do tratado, que expira em 2026, Moscou levará em conta o “arsenal conjunto” de EUA, Reino Unido e França.

Ryabkov frisou que neste momento “não há pontos de acordo” entre as duas partes e que a única condição em cima da mesa é que Washington mude o “curso hostil” que tem tomado em relação à Rússia desde 2010.

Em sua opinião, o nível de hostilidade “absolutamente sem precedentes” dos EUA, a escalada do conflito na Ucrânia e a guerra híbrida total contra seu país “alteraram profundamente a situação no campo da segurança” para a Rússia.

O diplomata lembrou ainda que Putin e seu homólogo da China, Xi Jinping, proclamaram na véspera em uma declaração conjunta que “não pode haver vencedores em uma guerra nuclear”, razão pela qual “nunca deve ser desencadeada”.

No documento, adotado no âmbito da visita de Estado de Xi a Moscou, os dirigentes pedem aos cinco países signatários da declaração conjunta sobre a prevenção da guerra nuclear e da corrida armamentista (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) que sigam seus princípios fundamentais.

Isso inclui “a redução efetiva do risco de guerra nuclear e qualquer conflito armado entre Estados que possuam armas nucleares”.

Em novembro de 2022, os dois países iriam retomar o diálogo estratégico no Cairo, mas a Rússia decidiu no último minuto adiá-lo indefinidamente devido à “falta de vontade” de Washington em levar em consideração as prioridades russas.

Os Estados Unidos haviam suspendido anteriormente o diálogo sobre controle de armas após a intervenção da Rússia na Ucrânia.

Moscou, por sua vez, informou Washington em agosto de sua decisão de proibir inspeções americanas de seu arsenal de armas nucleares, alegando dificuldades para fazer o mesmo nos EUA devido a sanções ocidentais relacionadas a permissões de sobrevoos e concessões de vistos a funcionários russos.

Em fevereiro de 2021, Putin e seu homólogo americano, Joe Biden, prorrogaram por cinco anos o último tratado de desarmamento nuclear em vigor entre as duas potências, assinado em 2010. EFE