Julianne Smith. EFE/Arquivo/STEPHANIE LECOCQ

China não pode mediar sem falar com Ucrânia, diz embaixadora dos EUA na Otan

Bruselas (EFE).- Os Estados Unidos acreditam que a China deveria se manter em contato com a Ucrânia, assim como com a Rússia, para se considerar um mediador sério na guerra de agressão russa contra o país vizinho, disse a embaixadora dos EUA na Otan, Julianne Smith, em entrevista à Agência EFE nesta quinta-feira.

“Qualquer país que queira desempenhar algum tipo de papel de mediação nesta guerra precisa claramente de estabelecer contato com ambos os lados. E, infelizmente, a China parece estar apenas interessada em falar com o agressor”, disse Smith, acrescentando que por estas razões “é difícil levar a sério estes esforços de paz”.

A diplomata americana analisou o apoio que os aliados da Ucrânia estão prestando para defender o país contra a invasão de Moscou e disse que a guerra poderia terminar “hoje” se o presidente russo, Vladimir Putin, quisesse que ela terminasse.

“Não podemos prever exatamente quando terminará esta guerra. Um homem poderia terminá-la hoje, literalmente”, mas Putin, “tragicamente, não demonstrou qualquer interesse em negociações”, comentou.

Smith reconheceu que existem múltiplas propostas de conversas de paz, mas enquanto os dez pontos apresentados por Kiev constituem um plano “muito inteligente” que recebeu o apoio do G7 e de muitos aliados da Otan, o da China é “menos interessante” e apenas a alusão ao reconhecimento da soberania e integridade territorial dos países é aceitável, afirmou.

“Mas, para além disso, não vemos os chineses tomando realmente medidas construtivas ou pragmáticas para se encontrarem tanto com os ucranianos como com os russos. Neste momento, eles estão apenas falando com os russos. E não pediram a retirada das tropas russas, o que é o início de qualquer plano de paz, uma vez que a Rússia é o agressor e a Rússia começou esta guerra”, acrescentou.

A embaixadora disse esperar que “haja alguma negociação num futuro não muito distante”.

“Em última análise, precisaremos em algum momento que ucranianos e russos se reúnam para se sentarem à mesa de negociações e trabalharem pela paz”, opinou.

Segundo Smith, embora no último ano “não tenhamos visto qualquer prova” de que a China esteja fornecendo armas à Rússia, tem fornecido “muito apoio político”, inclusive nas Nações Unidas.

“Pensamos que existe uma possibilidade distinta de a China reconsiderar a sua decisão de não enviar apoio material à Rússia”, afirmou, apesar de os EUA terem “avisado” Pequim dos “perigos e riscos de fazê-lo” e que “haveria consequências”.

Manter o ritmo da ajuda

A embaixadora dos EUA insistiu que “o tempo é essencial” para entregar às forças ucranianas as armas e munições prometidas pelos seus parceiros para que estejam prontas para uma ofensiva nas próximas semanas.

“Já chegou muito equipamento que eles poderão utilizar no campo de batalha. Mas vamos manter esse ritmo e continuar empurrando o mais rápido que pudermos”, disse à EFE.

Na sequência do acordo em nível de União Europeia para aumentar a produção de munições e fazer encomendas conjuntas com a indústria, Smith disse que “se os europeus descobrirem que podem produzir e entregar rapidamente aos ucranianos, isso seria ótimo”, mas se houver problemas, assegurou que os Estados Unidos “estão dispostos a ajudá-los se eles abrirem o acordo a países não pertencentes à UE”.

“Mas aplaudimos esta iniciativa da União Europeia. Pensamos que é uma ideia brilhante colocar em cima da mesa verdadeiros recursos”, enfatizou.

Cúpula na Lituânia

A embaixadora disse esperar que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esteja presente na próxima cúpula dos líderes aliados em Vilnius, na Lituânia, em julho, para debater a “evolução das relações” entre a Otan e o seu país.

Na cúpula, a expectativa é autorizar um novo modelo de forças com planos regionais, uma nova estrutura de comando e controle e um conjunto de forças mais vasto.

Além disso, os aliados anunciarão um novo compromisso de despesas de defesa que deverá tomar 2% do seu PIB como base e não como teto, disse a embaixadora, e esperam receber tanto Finlândia como Suécia como membros de pleno direito, assim que Turquia e Hungria completarem a sua ratificação.

Os líderes deverão também eleger um substituto para Jens Stoltenberg como secretário-geral da organização, cujo mandato tem se prolongado.

“Nos 74 anos de existência da Otan, não houve nenhuma secretária-geral. Portanto, existe a possibilidade de a Aliança eleger uma mulher, mas nós não sabemos. É claro que vamos olhar para todos os candidatos”, concluiu Smith. EFE