Santo Domingo (EFE).- A América Latina poderia avançar mais no processo de desenvolvimento da região se apostasse na gestão “disciplinada” dos gastos, na melhora da qualidade da educação e no aumento do apoio às micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), segundo a Associação Latino-americana de Integração (Aladi).
“A América Latina precisa de uma maior integração entre suas economias. Com a pandemia, cerca de 30 milhões de empregos foram perdidos na região, a maioria deles em micro, médias e pequenas empresas, que precisam do apoio dos Estados”, afirmou o secretário-geral da Aladi, o uruguaio Sergio Abreu, em entrevista à Agência EFE.
Após participar da Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Santo Domingo nos dias 24 e 25 de março, ele criticou a gestão dos gastos econômicos dos países, especificamente o aumento da dívida externa, que acontece porque os governos gastam mais do que podem e recorrem a mais empréstimos .
O ex-ministro das Relações Exteriores do Uruguai também lembrou que o comércio internacional mudou “substancialmente”, enquanto a região continua atrasada em termos de bens, serviços e economia digital.
Abreu ressaltou que países como Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia e Equador já têm a China como seu principal parceiro comercial, mas que ainda não há nenhum tratado ou acordo preferencial com o gigante asiático.
“A China se tornou o maior exportador de bens do mundo e o terceiro maior exportador de serviços, mas poderia exportar e negociar mais com a América Latina se os governos da região avançassem mais rapidamente”, insistiu ele.
Democracia e defesa da economia
O secretário-geral da entidade, que tem sede no Uruguai, afirmou que outra pendência dos países da região é conseguir que as democracias se concentrem no fortalecimento de suas economias.
“Não é uma questão de um governo desdenhar do que o anterior fez, por exemplo, ou de buscar maneiras de ganhar eleições; é preciso garantir estabilidade para as novas gerações”, acrescentou ele.
Abreu disse que a América Latina tem “todas as condições” para crescer, mas para isso precisa de uma dinâmica mais forte em seus países, que ajude as MPMEs a fortalecerem suas cadeias de valor e a buscar mercados complementares no exterior, principalmente na Europa, na China e nos Estados Unidos, devido à proximidade.
“É uma questão geopolítica, social e institucional. Tem que haver vontade política para mudar modelos comerciais e permitir o fortalecimento do comércio intra-regional”, acrescentou ele.
Brasil, Argentina e México, líderes da integração
O titular da Aladi também fez um apelo a países como Brasil, Argentina e México, que, segundo ele, não são mais subdesenvolvidos, mas “subemergentes”, para que assumam a liderança de um processo de integração inclusivo “na região mais desigual do planeta”, usando mecanismos que não deixem de fora pequenos empresários e consumidores.
“Agora temos plataformas digitais, algoritmos, aplicativos. Com estes instrumentos, podemos chegar aos pequenos empresários e ajudá-los com todas as informações necessárias para o fortalecimento de seus negócios; e este pode ser o fator diferencial. Há 70 milhões de pessoas trabalhando informalmente na América Latina, sem o apoio da previdência social”, explicou Abreu.
Cúpula Ibero-Americana
Abreu disse que dentro das discussões da Cúpula, foi levantada a questão de como as mudanças na economia podem afetar a regulamentação de áreas sensíveis, como os direitos humanos.
Segundo ele, esse é um tema “muito difícil”, porque se a privacidade das pessoas é gerenciada por empresas privadas, “quem fica responsável regulamentá-las?”.
“Você vai hoje a um supermercado e logo depois vê sua imagem naquele lugar circulando pelas redes sociais (…) esta é uma questão séria que precisa continuar sendo debatida”, exemplificou ele.
Por outro lado, Abreu defendeu que a questão da competitividade entre os países latino-americanos deveria ser amplamente discutida, e insistiu na importância de oferecer segurança aos produtores, de treinar funcionários e de criar fundos de garantia para financiamentos.
“Na América Latina existem quase 10 milhões de MPMEs, e elas são as que mais precisam da revolução digital, as que exigem governos transparentes e não corruptos (…) mas parece que ser honesto não é mais uma virtude”, lamentou.
A Cúpula Ibero-Americana chegou, no último sábado, a um consenso sobre seus quatro principais temas: meio-ambiente, transformação digital, segurança alimentar e arquitetura financeira.
Além disso, os chefes de Estado e de governo ibero-americanos chegaram a acordos sobre outros assuntos, como o Terceiro Plano de Ação Quadrienal de Cooperação 2023-2027, e a promoção da igualdade de gênero e do compromisso com a democracia. EFE