Mario Lubetkin durante uma entrevista à Agência EFE em Montevidéu. EFE/Alejandro Prieto

Fome aumentou 30% na América Latina e no Caribe desde 2019, diz a FAO

Montevidéu (EFE).- O número de pessoas que sofrem com a fome na América Latina e no Caribe aumentou 30% desde 2019 devido a fatores como a pandemia de covid-19, a crise climática e a guerra na Ucrânia.

É o que afirma em entrevista à Agência EFE o vice-diretor-geral e representante regional para a América Latina e o Caribe da FAO, Mario Lubetkin, que garante que “são mais de 56 milhões de pessoas em situação de fome”, 30% a mais do que os 43 milhões que havia em 2019.

Proteger os produtores

Durante a conversa, destacou que a questão climática “cada vez está pesando mais” e acrescentou que, em algumas ocasiões, na região – e na Europa – ocorrem combinações “dramáticas” de secas e inundações, para as quais defende “proteger aos produtores”.

“O aumento de preços surge a partir da destruição total das plantações, mas também é uma afetação tremenda dos pequenos produtores da agricultura familiar, então é um duplo efeito”, aponta o vice-diretor.

Por isso, propõe “prevenir o previsível e mitigar o mitigável” para preparar pequenos produtores e agricultores familiares para um cenário que “pode ter um impacto terrível”, situação para a qual governos e instituições internacionais “têm que se preparar para ajudar economicamente”.

“Primeiro, enfrentar o momento da melhor forma possível; segundo, gerar recursos adequados para absorver o impacto sobre a operadora e, terceiro, que os atores, neste caso governos e setores público e privado, consigam absorver parcialmente o impacto da preços que irão direto para o consumidor final”, resume Lubetkin.

Agricultura familiar

Nesse sentido, o representante da FAO na América Latina e no Caribe afirma que a instituição faz “um esforço muito grande na agricultura familiar”, porque representa 80% da base de trabalho a nível do campo e porque “garante uma produção de qualidade”.

De fato, em 2019 iniciou-se a Década da Agricultura Familiar da ONU (2019-2028) com o objetivo de reivindicar o desempenho desses empreendimentos familiares na erradicação da fome, segurança alimentar e desenvolvimento sustentável, especialmente nas áreas rurais.

Uma das iniciativas que a FAO tem sobre a mesa é levar a agricultura familiar às cantinas das escolas para que, a partir da produção em pequenas distâncias, os estudantes “tenham a garantia de almoçar” porque “é a melhor forma de raciocinar”.

Argumenta que não proteger a agricultura familiar “é um perigo” porque “se as propriedades do agricultor familiar forem destruídas, ele vai direto para a linha da pobreza, na qual não há amortecedor”.

Compromisso com a inovação

Outra das linhas de trabalho promovidas pela FAO são os processos de inovação e digitalização para “fazer muito mais com muito menos” e assim promover a segurança alimentar e o desenvolvimento agrícola.

Este compromisso com a transformação do setor resultou em projetos como “mil aldeias digitais”, projetados para fornecer apoio e assistência aos países para melhorar o uso de ferramentas digitais em sistemas agroalimentares e territórios rurais.

Especificamente, na América Latina e no Caribe, esta iniciativa é voltada para o turismo rural e busca ajudar as comunidades locais a aproveitar as vantagens oferecidas pelo ambiente digital para promover seus serviços turísticos, aumentar a renda e gerar empregos.

“Hoje sinto que existe um cenário de maior consciência e responsabilidade por parte das autoridades, porque a realidade da transformação dos sistemas alimentares está colocada no centro das atenções de governos e da opinião pública como nunca antes na história” conclui Lubetkin. EFE