Imagen de archivo del libertario Javier Milei. EFE/ Juan Ignacio Roncoroni

Discurso de Milei sobre possível fraude turva fim da campanha eleitoral na Argentina

Juan Verano.

Buenos Aires (EFE) – O discurso de fraude instalado pelo partido A Liberdade Avança, semelhante ao propagado por outras forças de direita em Brasil e Estados Unidos, está turvando o final da campanha para as eleições presidenciais do próximo domingo na Argentina, nas quais seu candidato, Javier Milei, enfrentará Sergio Massa, do partido governista.

“Fraude”, “roubo de cédulas” e “trapaça” são algumas das palavras mais contundentes ouvidas nos últimos dias antes da votação.

“Há um nível cada vez mais alto de desinformação”, disse à Agência EFE a jornalista Olivia Sohr, que compõe a equipe do site argentino de verificação Chequeado.

Sohr está preocupada com o surgimento de desinformação que prejudica o apoio a um candidato – com imagens falsas manipuladas ou declarações descontextualizadas – e busca “deslegitimar o próprio processo eleitoral”.

Liberdade Avança no centro da polêmica

Nesse sentido, o centro da controvérsia é A Liberdade Avança, partido de Milei.

“Aqueles que desinformam usam em cada país as complexidades de seu próprio processo eleitoral, nos EUA foi o voto enviado pelos correios e no Brasil o voto eletrônico. Na Argentina, o aspecto mais polêmico é o processo de impressão das cédulas, que é de responsabilidade de cada partido”, explicou Sohr.

Em relação ao partido, fontes que preferem não ser identificadas confirmaram à EFE que ele não está entregando tantas cédulas à Justiça Eleitoral como nas primárias de agosto ou nas eleições gerais de outubro.

“Muitos (eleitores) não tinham cédulas porque elas eram facilmente roubadas”, alertam essas fontes, que pedem “muita cautela para que não haja trapaça”.

Para o site Chequeado e outros especialistas em cenários eleitorais, como a empresa Contextual, é improvável que haja uma fraude maciça nas urnas que afete o resultado.

“Se o resultado for apertado, há um medo real de que se acredite que ele não é legítimo. Isso significaria um cenário muito complicado para o novo governo, que teria de governar com uma ideia inicial de falta de legitimidade”, ressaltou Sohr.

A direita buscou o apoio do aparato eleitoral do Juntos pela Mudança (centro-direita), principal força de oposição do país, cuja candidata, Patricia Bullrich, ficou de fora do segundo turno.

Na última terça-feira, Bullrich reiterou seu apoio a Milei em evento com seus militantes, a quem pediu que supervisionassem o domingo “com a faca entre os dentes” para evitar que o peronismo “ganhe ilegalmente o que não pode ganhar legalmente”, apoiando a tese de fraude levantada pela extrema-direita.

O evento de Bullrich em Buenos Aires contou com a presença de jovens apoiadores de A Liberdade Avança.

Trump e Bolsonaro, inspirações

A ultradireita lembra as ações utilizadas pelos apoiadores do ex-presidente dos EUA Donald Trump (2017-2021) e de Jair Bolsonaro (2019-2023) quando não foram reeleitos em seus respectivos países.

Em ambos os casos, a ideia de fraude levou a protestos violentos.

O diretor do Contextual na Argentina, Andrés Piazza, acredita que, nas últimas semanas, o comportamento de Milei e seus seguidores se assemelha – em termos de desinformação – ao de outros movimentos de extrema-direita.

“Estamos começando a ver declarações preventivas e manifestações de representantes de A Liberdade Avança sobre a questão das cédulas (…) Há um terreno fértil”, disse Piazza à EFE.

No entanto, o especialista reconhece que os slogans de A Liberdade Avança estão sendo suficientemente ambíguos para não gerar suspeitas que possam vinculá-los a um eventual passo à ação. EFE