EFE/Arquivo/Miguel Lemus

Vaticano esclarece que bênção a casais homossexuais não será “litúrgica”

Cidade do Vaticano, 4 jan (EFE).- O Vaticano esclareceu nesta quinta-feira que a bênção a casais homossexuais ou em “situação irregular”, recentemente permitida por um polêmico documento, não será “litúrgica ou ritualizada” e não implicará em sua “justificação”.

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, emitiu hoje um comunicado para esclarecer alguns pontos da declaração “Fiducia Supplicans” com a qual, no dia 18 de dezembro, foram permitidas bênçãos a casais homossexuais ou em situação “irregular”.

Diante das dúvidas manifestadas por numerosos bispos e membros do clero, o antigo Santo Ofício afirmou: “A Declaração contém a proposta de breves e simples bênçãos pastorais (não litúrgicas ou ritualizadas) a casais (não às uniões) irregulares”.

Trata-se de, segundo frisou imediatamente, “bênçãos sem forma litúrgica que não aprovam nem justificam a situação em que estas pessoas se encontram”.

“A verdadeira novidade do documento” reside no “convite a distinguir” entre bênçãos “litúrgicas ou ritualizadas” e “espontâneas ou pastorais”, que podem ser concedidas a este tipo de relações, explica o comunicado.

Nesse sentido, essas “bênçãos pastorais, para se distinguirem das bênçãos litúrgicas ou ritualizadas, devem antes de tudo ser muito breves”.

A Doutrina da Fé acrescenta um exemplo do que seria uma “bênção pastoral”, na qual o sacerdote formula a oração: “Senhor, olhai para estes teus dois filhos, concedei-lhes saúde, trabalho, paz, ajuda mútua. Livrai-os de tudo o que contradiz o teu Evangelho e concedei-lhes que vivam segundo a tua vontade. Amém”.

“São 10 ou 15 segundos. Faz sentido negar esse tipo de bênção a duas pessoas que imploram?”, questiona.

A “Fiducia Supplicans” já afirmava que quando a bênção for solicitada por um casal “em situação irregular” nunca poderá ser realizada concomitantemente com os ritos civis de união ou com vestidos de noiva, por exemplo, para evitar qualquer confusão.

Isso porque o Vaticano de Francisco, embora permita estas bênçãos “espontâneas” ou informais aos casais homossexuais, não as iguala ao casamento canônico.

O Vaticano observou ainda que a forma como esta declaração foi recebida nas dioceses exige “a necessidade de um tempo mais longo de reflexão pastoral”.

Esse comunicado é divulgado na sequência de declarações e cartas pastorais das Conferências Episcopais e dioceses nas quais os sacerdotes são exortados a não abençoarem casais do mesmo sexo ou casais em situação irregular.

Uma das mais recentes, do bispo de Moyobamba (Peru), Rafael Escudero, exorta os sacerdotes de sua diocese a, “dada a falta de clareza do documento”, seguirem “a práxis ininterrupta da Igreja até o momento, que é abençoar toda pessoa que pede uma bênção, e não casais do mesmo sexo ou casais em situação irregular”.

Por outro lado, a Santa Sé também especificou o procedimento a seguir nos países onde a declaração da homossexualidade é legalmente penalizada com prisão e, em alguns casos, tortura ou morte.

Nestes casos, salienta a Congregação, “entende-se que a bênção seria imprudente” e “é evidente que os bispos não querem expor os homossexuais à violência”. EFE