Dmitry Peskov. EFE/ARQUIVO/SERGEI KARPUKHIN / POOL

Kremlin nega pressões sobre o enterro de Navalny após entregar o corpo à mãe

Moscou (EFE).- O Kremlin negou nesta segunda-feira qualquer pressão em relação ao enterro do líder opositor Alexei Navalny, que morreu no último dia 16 de fevereiro na prisão, após a entrega do corpo do inimigo número um do presidente Vladimir Putin.

“O Kremlin não tem nada a ver com isto. Naturalmente, o Kremlin não pode exercer pressão. Esta é mais uma declaração absurda dos seus apoiadores”, disse o porta-voz presidencial da Rússia, Dmitry Peskov, na sua coletiva de imprensa telefônica diária.

Peskov lembrou que “praticamente todos” os aliados do falecido opositor são alvos de mandados de busca e captura no exterior.

Sobre a entrega do corpo do opositor, o porta-voz negou que Putin, a quem a mãe de Navalny se dirigiu em uma carta e em um vídeo no YouTube, tenha tomado a decisão de devolver o corpo à família.

“O chefe de Estado não participa nestes assuntos (…) Isso não é absolutamente da nossa conta e não é nossa prerrogativa”, frisou.

A mãe do opositor, Liudmila Navalnaya, recebeu o corpo no sábado, nove dias depois de seu filho ter morrido em circunstâncias misteriosas em uma prisão do Ártico, no distrito autônomo de Iamália-Nenets.

“Temos os funerais pela frente, mas não sabemos se as autoridades vão impedir que sejam realizados como a família deseja e como Alexei merece”, disse Kira Yarmish, porta-voz do opositor.

Os correligionários de Navalny denunciaram que o Comitê de Instrução russo (CIR), órgão diretamente dependente do Kremlin, apresentou na sexta-feira um ultimato à família para evitar manifestações públicas de rejeição contra o Kremlin.

Liudmila Navalnaya recusou-se a negociar com o CIR, argumentando que seus investigadores “não têm o poder de decidir como e onde enterrar o seu filho”.

A mãe manifestou-se desde o início a favor de que os apoiadores de Alexei Navalny pudessem despedir-se dele.

Segundo a oposição, o Kremlin seria a favor de que o funeral fosse privado, à imagem e semelhança do que aconteceu em agosto com o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, por cuja morte em um desastre aéreo Putin também é responsabilizado pelos críticos do Kremlin.

O atestado de óbito assinado pela mãe de Navalny garante que o opositor morreu de “causas naturais”, versão que é rejeitada pelos correligionários do opositor, que acusam o Kremlin de matar seu líder.

As redes sociais especulam desde sábado sobre a data, local e formato do funeral, que poderá atrair milhares de apoiadores de Navalny.

O enterro poderia inclusive coincidir com o discurso de Putin sobre o estado da nação, nesta quinta-feira, perante ambas as câmaras do Parlamento. EFE