Bruxelas (EFE).- A ex-alta representante da Política Externa da União Europeia (UE), Federica Mogherini, e outros dois detidos na véspera foram indiciados nesta quarta-feira pela procuradoria europeia no âmbito de uma investigação por suposta fraude e corrupção na contratação pública, entre outros crimes relacionados a uma formação financiada pelo bloco europeu para jovens diplomatas.
Em comunicado, a Procuradoria Europeia (EPPO) afirmou que as três pessoas detidas foram colocadas em liberdade por não ter sido detectado risco de fuga e especificou que os crimes que lhes são imputados são fraude e corrupção na contratação pública, conflito de interesses e violação do segredo profissional.
A Polícia Federal da Bélgica realizou nesta terça-feira buscas em vários edifícios do Colégio da Europa em Bruges, no Serviço Europeu de Ação Externa em Bruxelas e nas residências dos suspeitos por uma suposta fraude na academia diplomática da União Europeia que, durante o ano acadêmico de 2021-2022, foi organizada pelo Colégio da Europa de Bruges mediante uma licitação.
A investigação se concentra em verificar se o Colégio da Europa, centro do qual Mogherini é reitora, foi informado de antemão sobre os critérios de seleção do procedimento de licitação para este programa para jovens diplomatas e tinha motivos suficientes para crer que seria o vencedor antes que o Serviço Europeu de Ação Externa publicasse o anúncio de licitação.
Mogherini estava à frente do centro de estudos com sede em Bruges desde 2020 e durante o curso acadêmico no foco da investigação, dotado com cerca de 2 milhões de euros para seus dois primeiros anos e que fez parte da iniciativa de Bruxelas para expandir a formação dos jovens diplomatas da UE sob o mandato como alto representante do espanhol Josep Borrell, sucessor da política italiana nesse cargo.
Além de Mogherini, foi detido o diplomata italiano Stefano Sannino, ex-secretário-geral do Serviço Europeu de Ação Externa durante esse período, segundo detalhes publicados pela imprensa belga.
O terceiro detido é, segundo a agência de notícias “ANSA”, o também italiano Cesare Zegretti, que desde 2022 é o codiretor do escritório de Educação Executiva, Formação e Projetos do Colégio da Europa.
A procuradoria limitou-se a anunciar o indiciamento da “reitora e um alto funcionário” do Colégio da Europa, assim como de um alto funcionário da Comissão Europeia, sem divulgar as identidades dos indiciados.
Citada pela “ANSA”, a advogada de Mogherini, Mariapaola Cherchi, declarou que o interrogatório se prolongou por dez horas, até a meia-noite, e que a ex-chefe da diplomacia europeia deu “esclarecimentos de forma exaustiva e detalhada, tal como legitimamente requereram os investigadores”, em um clima que descreveu como “sereno”.
Segundo sua advogada, Mogherini perguntou aos investigadores se deveria “limitar seus movimentos”, mas lhe disseram que não, por não haver “motivo para isso”.
“Isto deveria ajudar a acalmar a polêmica que até agora foi alimentada principalmente pelos meios de comunicação”, acrescentou.
A EPPO, uma procuradoria independente que investiga crimes contra os interesses financeiros da UE, ressaltou que, por enquanto, não tornará públicos mais detalhes da investigação para não comprometer seu resultado e enfatizou a presunção de inocência dos três indiciados. EFE