Manifestantes enfrentam policiais no centro de Lima. EFE/Aldair Mejía

Boluarte manda identificar policiais que usaram armas letais em protestos

Lima (EFE).- A presidente do Peru, Dina Boluarte, afirmou nesta terça-feira que deu ordens à Polícia Nacional para não usar “nenhuma arma letal” nos protestos cidadãos que estão sacudindo o país e para identificar aqueles que as usaram, causando a morte de pelo menos sete manifestantes.

“Dei instruções à polícia para não usar nenhuma arma letal, nem mesmo balas de borracha. Dei as instruções necessárias ao Ministério do Interior para individualizar as pessoas que usaram essas armas que prejudicaram nossas irmãs e irmãos. Assim que estiver individualizado, o peso da lei correspondente será aplicado”, declarou a presidente peruana.

Boluarte fez essas declarações poucas horas depois que o chefe policial da região de Lima, Víctor Zanabria, anunciou que a partir desta terça-feira os agentes aumentariam “o nível de resposta” às marchas e usariam balas de borracha “dado o nível de violência e afetação à integridade”.

A presidente, que assumiu o poder na última quarta-feira após a destituição do ex-presidente Pedro Castillo, fez um “apelo por calma e paz” e disse que, por enquanto, não acredita que será necessário levar o Exército às ruas, que pelo sétimo dia consecutivo são palco de protestos que exigem sua renúncia, a antecipação das eleições gerais, o fechamento do Congresso e a convocação de uma Constituinte, entre outras reivindicações.

Em resposta, Boluarte reiterou que chegou à presidência peruana porque integrou, como vice-presidente, a chapa encabeçada por Castillo e que venceu as eleições do ano passado. Nesse sentido, argumentou que não fez “absolutamente nada para que essa situação (de protesto) existisse”.

A governante peruana destacou ainda que acionou o Ministério Público para iniciar as investigações necessárias para identificar os responsáveis ​​por “este tipo de atitudes violentas” que, em sua opinião, estão “por cima do direito de protesto”.

“Todas as pessoas têm o direito de protestar, mas gerar vandalismo, queimar hospitais, ambulâncias, tomar aeroportos, isso não fala de um protesto normal, isso já está se tornando extremo”, opinou.

Boluarte concluiu dizendo que espera que os cidadãos “entendam” seu apelo “e se acalmem” e reiterou que “também a polícia estará retornando aos seus postos de trabalho para que todos possamos viver em paz”.

Boluarte acredita que Castillo foi “manipulado” para chamá-la de usurpadora

Boluarte também afirmou nesta terça-feira que seu antecessor no cargo, Pedro Castillo, destituído e preso após sua tentativa fracassada de autogolpe, foi manipulado para rotulá-la como “usupardora”.

“Conheço o presidente, conversamos várias vezes, muitas vezes nos abraçamos e às vezes choramos (…) Não acho que essas palavras que estão aparecendo no Twitter (de Castillo) sejam palavras dele. Ele está sendo usado, sendo manipulado”, disse Boluarte em comunicado à imprensa.

Da mesma forma, culpou a ex-primeira-ministra Betssy Chávez por ter “gerado” a situação na qual o Peru está imerso atualmente, antes de acrescentar que lhe causa “dor e consternação” que Castillo esteja detido por seu autogolpe fracassado.

“Não sei que pessoas convocaram o ex-presidente Pedro Castillo a tomar essa decisão”, comentou a governante, em relação ao anúncio da dissolução do Congresso da quarta-feira passada.

Nesse sentido, mencionou os ex-ministros do Trabalho; Alejandro Salas, da Justiça, Félix Chero; do Comércio e Turismo, Roberto Sánchez, e o ex-primeiro-ministro, Aníbal Torres, como o círculo mais próximo do ex-presidente, com quem deixou de estar de acordo.

Castillo publicou ontem em sua conta no Twitter uma carta com sua assinatura na qual chamava de “usurpadora” aquela que foi eleita vice-presidente na chapa que encabeçou nas eleições de 2021 e que foi empossada como chefe de Estado após sua destituição.

Além disso, criticou e questionou a proposta de Boluarte de antecipar as eleições gerais para abril de 2024.

Falando hoje em uma audiência do Supremo Tribunal que analisa o recurso à prisão preventiva que lhe foi decretada, o ex-presidente culpou Boluarte “pelo violento ataque a seus compatriotas” nos protestos do últimos dias, nos quais sete manifestantes morreram e 130 policiais ficaram feridos. EFE