Bento XVI em agosto de 2011. EFE/Arquivo/CLAUDIO ONORATI

O que acontecerá quando Bento XVI morrer? Não há regras sobre o papa emérito

Cristina Cabrejas

Cidade do Vaticano (EFE).- A falta de regulamentação sobre como organizar as etapas após a morte de um papa emérito, já que não existe um estatuto sobre esta figura, causa incerteza sobre o que acontecerá quando morrer o papa Bento XVI, cujo estado de saúde se agravou nos últimos dias.

O papa Francisco afirmou recentemente em entrevista publicada no jornal espanhol “ABC” que “não lhe havia ocorrido tocar” em um possível estatuto sobre a figura de um papa emérito: “Será que o Espírito Santo não tem interesse em que eu cuide dessas coisas?”, disse ele então.

Os passos a seguir após a morte do papa estão descritos na Constituição “Universi Dominici Gregis”, aprovada por João Paulo II em 1996, e exceto a abertura de um conclave e a destruição do anel papal, além de outras pequenos detalhes, parece que pouco vai mudar, embora essas nuances sejam importantes.

Mas, no caso de Bento XVI, as disposições relativas à abertura do testamento ou como e quando celebrar o funeral, não serão feitas pelo camerlengo, que atua em caso de vacância do cargo, como é conhecido o período sem pontífice, mas diretamente por Francisco.

Ao que tudo indica, como aconteceu com o papa, o cadáver será preparado e uma capela funerária será organizada, mas dentro do palácio pontifício, já que Joseph Ratzinger vive no mosteiro Mater Ecclesiae desde sua renúncia, dentro dos jardins do Vaticano.

Se será público ou privado, não se sabe, embora Francisco certamente permita a veneração dos fiéis na Basílica de São Pedro.

O papa presidirá um funeral pela 1ª vez na história

Com toda certeza, será a primeira vez na história em que um pontífice presidirá o funeral de seu antecessor imediato, já que Francisco celebrará a missa para a qual, provavelmente, serão convidadas as mais altas autoridades de todos os países.

Também será conhecido o local indicado por Bento XVI para ser enterrado, embora com total segurança será a cripta dedicada aos pontífices localizada sob a basílica vaticana, como já revelou ao seu biógrafo, Peter Seewald.

É possível que, como no caso dos papas, também existam três caixões, mas são detalhes que ninguém sabe, já que esta é a primeira vez que um papa emérito será sepultado.

Dois dias antes de sua renúncia entrar em vigor, em 26 de fevereiro de 2013, o então porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, anunciou que teria o título de “Papa Emérito” ou “Roman Pontiff Emeritus”, que permaneceria “Sua Santidade Bento XVI.”, que usaria uma batina branca mais simples, sem a pequena capa sobre os ombros, e que não usaria o anel de pontífice, mas sim de bispo. Isso não estava escrito em nenhum documento.

E é que depois de sua morte continuará faltando regulamentação que evite importantes problemas de gestão no Vaticano quanto à coexistência de dois papas, depois que além do fato de que o papa alemão poderia ter sido usado por uma ala mais conservadora da Igreja para atacar Francisco.

“O papa emérito, nos primeiros anos, foi usado por vários grupos para outras causas, especialmente dentro da Igreja, e por motivos nem sempre transparentes”, lamentou Luis Badilla, diretor da página que coleta informações do Vaticano “Il Seismografo”, onde considerou “oportuno e necessário codificar a presença de um ex-bispo de Roma”.

Para o jornalista Massimo Franco, do “Corriere della Sera”, que visitou várias vezes Bento XVI em sua residência Mater Ecclesiae e é autor do livro “Il Monasterio” sobre a coexistência dos dois papas, o fato da renúncia não ser regulamentada “é algo que em perspectiva pode ser desestabilizador para a Igreja”.

“É a grande lacuna que deve ser preenchida. A grande questão não abordada na Igreja é se o gesto de Bento será único ou o início de uma práxis. É preciso pensar que um papa pode renunciar, mas também como ser alguém que opta por sair ou renunciar dizendo que a Igreja é irreformável”, aponta. EFE