Manuel Pérez Bella |
São Paulo (EFE) – O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Gilbert Houngbo, disse que não se pode parar o avanço da inteligência artificial, mas ressaltou que a tecnologia deve trazer grandes benefícios quanto à geração empregos.
“Não se pode parar a inteligência artificial. Temos que aceitar que ela avançará cada vez mais. Mas, de modo geral, os avanços tecnológicos e digitais podem criar mais empregos do que destruir. Sabemos disso”, disse o político e diplomata togolês à Agência EFE por telefone, em meio a sua primeira visita ao Brasil desde que tomou posse, no ano passado.
Houngbo declarou que o “desafio” que a inteligência artificial representa para os governos é o desenvolvimento de estratégias destinadas a oferecer oportunidades de formação aos trabalhadores ameaçados de perder seus empregos, para que eles possam optar por outros de “qualidade”.
Desigualdade em ascensão
“As novidades tecnológicas são apenas um dos ingredientes que alimentaram as incertezas no mercado de trabalho e exacerbaram a desigualdade e a informalidade”, alertou.
“Se olharmos para os dados, três anos após o início da pandemia (de covid-19), as desigualdades estão aumentando. Quatro bilhões de pessoas, metade da população, não tem qualquer tipo de proteção social. Em muitos casos, elas não têm igualdade de oportunidades em suas vidas”, acrescentou o diretor-geral da OIT.
Para combater essas desigualdades, a entidade pretende promover uma “coalizão global pela justiça social”, a ser criada em junho, na Conferência Mundial do Trabalho, em Genebra, na Suíça.
“A coalizão global almeja colocar os compromissos sociais no topo da agenda mundial, assim como acontece com a questão da mudança climática”, explicou Houngbo.
O diretor-geral da OIT viajou ao Brasil justamente para pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que se junte a esta coalizão global.
Houngbo ressaltou que a agenda social do governo Lula está “muito alinhada” com estes objetivos e previu que o país será “um dos campeões” em termos de políticas sociais no mundo.
Um dos capítulos em que o Brasil está dando “grandes passos”, segundo Houngbo, é na luta contra o trabalho escravo, embora o país ainda não tenha ratificado o protocolo da OIT, de 2014, contra essa prática.
Ele pediu “não somente ao Brasil, mas ao mundo inteiro” que assine este acordo, que já foi ratificado por 59 países e está em vigor desde 2016 como um instrumento-chave para combater a escravidão moderna, conforme ressaltou. EFE