Lula e o presidente de Portugal, Marcelo rebelo de Sousa, nesta terça-feira, em Lisboa. EFE/Antonio Cotrim

Lula minimiza protesto da extrema-direita portuguesa: “Papelão”

Mar Marín |

Lisboa (EFE).- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu nesta terça-feira, em meio a protestos da extrema-direita, uma visita a Portugal que selou a reaproximação entre os dois países, com metas comerciais ambiciosas no horizonte e o desafio de avançar no tratado entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que também será prioridade em sua agenda na Espanha.

A visita terminou hoje com uma cerimônia no Parlamento português marcada pelos protestos dos deputados do partido Chega, que Lula qualificou como um “papelão” da extrema-direita.

Nas imediações da Assembleia, um forte dispositivo de segurança controlou duas manifestações, uma a favor do presidente e outra contra – convocada justamente pelo Chega – que decorreram sem incidentes.

O Chega, que receberá Jair Bolsonaro em um evento em Portugal em maio, já havia antecipado os protestos, que coincidem também com as comemorações relativas ao aniversário da Revolução dos Cravos, que em 1974 depôs o regime ditatorial do Estado Novo.

Brasil de volta, e com Ucrânia e Mercosul na agenda

“O Brasil está de volta”, reforçou Lula durante sua visita a Portugal, sobre a qual pairaram dois temas da agenda internacional: a guerra na Ucrânia e o tratado UE-Mercosul.

No Parlamento português, Lula reiterou hoje seu compromisso com um diálogo de paz: “A guerra não poderá seguir definitivamente (…) É preciso falar de paz”, disse Lula, que defende a criação de uma mesa com países “que deem confiança” para as partes em conflito.

Uma posição que contrasta com a mantida pela UE e que foi sintetizada hoje pelo presidente do Parlamento portugês, Augusto Santos Silva: a Rússia “deve cessar as hostilidades e retirar-se de um país soberano”.

Apesar dessa divergência, Brasil e Portugal se mostraram em perfeita sintonia no que diz respeito à promoção do acordo UE-Mercosul.

Lula consegue levar de Portugal o compromisso do primeiro-ministro, António Costa, de funcionar como “ponta de lança” para acelerar o tratado em Bruxelas.

Essa questão também será prioritária na agenda que o presidente inicia hoje na Espanha, país que em julho assumirá a presidência da UE.

Não surpreendentemente, Lula escolheu Portugal e Espanha em sua primeira visita à Europa, não somente por conta de seus laços históricos com o Brasil, mas também por serem a “porta de entrada” para o bloco europeu.

O Brasil quer investimentos

O Brasil quer investimentos e parceiros. Nesse sentido, Lula desafiou Portugal a duplicar a balança comercial bilateral, que já se aproxima dos US$ 6 bilhões.

“Queremos convidar os empresários a se associarem a nós”, afirmou na segunda-feira durante um fórum empresarial, após uma cúpula bilateral que terminou com a assinatura de mais de uma dezena de acordos.

A cooperação aeronáutica é um exemplo das possibilidades conjuntas. A Embraer, que controla 65% da OGMA, a agência aeroespacial portuguesa, irá produzir em Portugal uma versão do A-29 Super Tucano, um dos modelos utilizados pela Otan.

Além disso, a Embraer vendeu cinco unidades do cargueiro militar KC-390 para Portugal.

Ambos os governos confiam que a retomada das cúpulas bilaterais anuais – suspensas por sete anos – multiplicará as oportunidades.

Prêmio para Chico Buarque, símbolo do reencontro

A visita de Lula também permitiu ao escritor e compositor Chico Buarque receber o prêmio Camões, que ganhou em 2019 e que Jair Bolsonaro se recusou a entregar.

“Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”, declarou Chico, acrescentando que valeu a pena esperar para receber o prêmio nas vésperas da celebração da Revolução dos Cravos.

“O Chico esperou quatro anos para receber o prêmio em mãos, e nós esperamos quatro anos para entregá-lo em mãos, como amigos esperam uns pelos outros”, resumiu o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. EFE