Manuel Pérez Bella |
São Paulo (EFE) – A preservação da Amazônia brasileira é inviável sem o desenvolvimento econômico da região, uma das mais pobres do país, afirmou o governador do Amazonas, Wilson Lima, em entrevista à Agência EFE em São Paulo, onde participou de um evento na Câmara Espanhola para atrair investimentos para seu estado.
Lima, que há quatro anos dirige o maior estado do Brasil, com 1,5 milhões de km² de território -97% dele coberto por mata virgem-, defende que a floresta só pode ser mantida dentro de uma “lógica financeira”.
“Se você não der oportunidade para as pessoas que moram na floresta, não tenha dúvida de que elas vão partir para uma atividade, seja ela legal ou ilegal, mas vão utilizar os recursos da floresta para poder garantir o sustento de suas famílias. Então, não tem como você falar em preservação ambiental com pobreza”, argumentou.
O político também destacou que a melhor ferramenta para o desenvolvimento sustentável é a geração de empregos e, por isso, defendeu a manutenção das vantagens fiscais da Zona Franca de Manaus, que transformaram a capital regional numa potência industrial de 2 milhões de habitantes.
Uma estrada polêmica
Nesse sentido, o governador lembrou que um dos projetos-chave para a continuidade do desenvolvimento industrial em Manaus nos próximos anos é a conclusão do asfaltamento da BR-319, que caracterizou como “a grande luta” das autoridades do Amazonas e que enfrenta a oposição de ambientalistas.
Esta estrada, atualmente “intransitável”, permitirá o transporte de televisores, aparelhos de ar condicionado e motos fabricados na zona industrial de Manaus para os grandes centros de consumo do Brasil, encurtando assim o tempo de envio.
Lima garantiu que o estado cumpre “todas as condições ambientais” para as obras, que começaram em 2022, e disse que, uma vez pavimentada, a estrada, ao contrário do que pensam os ambientalistas, servirá para “reforçar” a fiscalização ambiental e melhorar o combate ao desmatamento e outros crimes.
“Pavimentar a BR-319 significa desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e, claro, desenvolvimento ambiental. Não podemos ser condenados ao atraso por causa de discursos equivocados sobre preservação feitos por pessoas que não conhecem a Amazônia”, insistiu.
A relação com Lula
O integrante do partido União Brasil, que recebeu o apoio do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, se distancia das políticas ambientais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu “desmatamento zero” e o fim da mineração ilegal na Amazônia.
Lima é contrário ao garimpo ilegal por causa dos danos causados ao meio ambiente e também aos cofres públicos: “Não há receita com o contrabando”.
No entanto, acredita que a política de repressão aos crimes ambientais “tem de ser uma exceção” porque a sua eficácia é “limitada”.
“Esse trabalho de repressão, prisão e punição tem um limite. Chega uma altura em que já não funciona. O que nós temos que fazer é avançar em questões que resolvam definitivamente o problema da Amazônia”, defendeu.
“O Estado brasileiro tem essa prática: o que ele não consegue resolver ou não sabe, ele simplesmente pune ou faz vista grossa”, criticou Lima.
Para ele, a solução para os conflitos na Amazônia passa pela regularização fundiária e pela mineração artesanal, além do investimento em tecnologias para o desenvolvimento da “bioeconomia”.
Fundo Amazônia, chave para o desenvolvimento sustentável
Uma das ferramentas “fundamentais” para que a região avance em sustentabilidade é o Fundo Amazônia, que conta com contribuições de US$ 1 bilhão da Noruega e da Alemanha.
Entretanto, a eficácia do fundo depende da melhoria de sua gestão, segundo Lima, que criticou o excesso de burocracia do governo federal como um obstáculo ao acesso das autoridades regionais a esses recursos.
Além disso, o governador acredita que o fundo deve ser administrado por “alguém que conheça a realidade da Amazônia”.
A Zona Franca de Manaus e a reforma tributária
Lima disse à EFE que a “maior preocupação” do Amazonas em relação às autoridades de Brasília é a continuidade do regime tributário da Zona Franca de Manaus, que poderá ser modificado pela reforma tributária que o governo Lula pretende promover.
No entanto, o político afirmou que há sinais de que o novo projeto legislativo manterá as condições que permitem às fábricas de Manaus serem competitivas em relação às suas concorrentes de São Paulo ou da China, o que é de vital importância porque 70% da economia regional gira em torno dessa zona industrial. EFE