EFE/Jerome Favre

Milhares de pessoas protestam no Senegal contra possível 3º mandato do presidente

Dacar (EFE).- Milhares de pessoas se manifestaram, nesta sexta-feira, em Dacar contra um terceiro mandato não permitido pela Constituição do presidente Macky Sall, em um momento em que o mandatário ainda não declarou se será ou não candidato nas eleições presidenciais previstas para fevereiro de 2024.

“Estamos aqui para dizer não à terceira candidatura do atual presidente da República do Senegal, Macky Sall, e ao mesmo tempo estamos aqui para validar a do (líder da oposição) Ousmane Sonko”, disse à Agência EFE o senegalês Cheick Mbaye, de 33 anos, no início da manifestação na Praça da Nação, na capital.

“Mesmo que os gendarmes e a polícia caminhem sobre cadáveres, Sonko será candidato à República do Senegal porque, neste momento, é a única esperança, a única solução para os senegaleses”, acrescentou Mbaye.

Para este manifestante “Sall traiu a juventude” e está “subjugando a população senegalesa” usando “a gendarmeria, a polícia e a Justiça”.

A manifestação foi convocada pela F24, plataforma que reúne mais de 130 organizações e criada em meados de abril para denunciar uma possível terceira candidatura de Sall, a libertação de presos políticos e a criação de condições ótimas para a realização das eleições presidenciais do próximo ano, entre outros.

Apesar de Sall – no poder desde 2012 – ainda não ter confirmado se será candidato, segundo disse à EFE Aliou Sané, coordenador do principal movimento cidadão do Senegal, Y’en a marre, e membro do F24, “não se pode esperar que ele se apresente para lutar. É preciso dizer a ele que não tem o direito de fazer isso e que não deve fazer isso”.

A Constituição da República do Senegal estabelece que o presidente é eleito por um mandato de cinco anos e que “ninguém poderá exercer mais de dois mandatos consecutivos”, o que descarta Sall como candidato em 2024, tendo sido reeleito em 2019.

À incerteza e tensão gerada em país por uma possível candidatura de Sall, o que a oposição considera “uma campanha de liquidação programada” contra o principal opositor através de vários processos judiciais – um por difamação e outro por suposto estupro – iniciados nos últimos meses e poderia eliminá-lo da corrida presidencial.

Somam-se a isso as recentes denúncias de ativistas e organizações de direitos humanos contra a detenção de opositores e jornalistas e contra o uso excessivo da força policial, como ocorreu em 9 de maio em confrontos entre jovens e a Gendarmaria durante os quais uma adolescente morreu ou as 14 mortes ocorridas durante os protestos de março de 2021, 12 das quais baleadas por forças de segurança.

Esta é a primeira de várias manifestações previstas para os próximos dias no Senegal.

O Senegal é conhecido por sua estabilidade e tradição democrática e é o único país da região da África Ocidental que não sofreu um golpe de Estado. EFE