Sergio Abreu durante uma entrevista à Agência EFE em Montevidéu. EFE/Federico Gutiérrez

Integração comercial é chave contra insegurança alimentar na América Latina, diz Aladi

Montevidéu (EFE).- O aumento do comércio entre os países latino-americanos é uma das chaves para combater a insegurança alimentar na região, defendeu em entrevista à Agência EFE o secretário-geral da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), Sergio Abreu.

Para o uruguaio, recuperar o comércio na região levará a uma integração “real e concreta”, além de ajudar a avançar no processo de inclusão social, uma questão prioritária na América Latina.

“Temos que enfrentar um desafio. O primeiro é a convergência regulatória (…) Hoje os impostos sobre as mercadorias que entram e saem de um país, não são mais tão importantes quanto as regulamentações. Os países se defendem impondo restrições sanitárias e não sanitárias”, explicou o ex-ministro das Relações Exteriores do Uruguai (1993-1995). 

“Toda essa série de regulamentações são proteções obviamente impostas pelos países maiores a nível global, mas também são aplicadas em nossa própria região”, acrescentou Abreu.

De acordo com ele, as negociações entre os 13 países que compõem a Aladi representam 11% de suas exportações, enquanto o comércio interno entre as nações europeias é de 60%.

Nesse sentido, ele argumentou que o sistema deve ser “desmantelado” para eliminar “lacunas burocráticas” no processo de integração e para diminuir os obstáculos na cadeia agroalimentar e no acesso à cesta básica de alimentos.

Abreu também lembrou que a região enfrenta uma situação  “preocupante” e desafiadora, marcada pelas consequências da pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia, que causaram a perda de 40 milhões de empregos em micro, pequenas e médias empresas na América Latina.

Por isso, segundo o secretário-geral da Aladi, a vontade política, a compreensão da situação internacional e o uso correto dos instrumentos disponíveis também são essenciais para combater a insegurança alimentar.

Combate à insegurança alimentar

Nesse sentido, o diretor da Comissão de Assuntos Agrícolas do Conselho Argentino de Relações Internacionais, Martín Piñeiro, disse à EFE que a insegurança alimentar pode ser combatida com “desenvolvimento econômico, distribuição de renda e programas sociais”.

De acordo com ele, “em tempos de crise, os programas sociais são fundamentais”, e a melhor solução é “melhorar a renda de todas as pessoas” para que elas tenham a capacidade de comprar alimentos.

Além disso, Piñeiro lembrou que o aumento da inflação que afeta a região é “um problema” e defendeu que é imprescindível uma redução de sua escalada para melhorar a situação.

Infraestrutura, um desafio para a integração regional

Outra questão abordada pelo secretário-geral da Aladi e que constitui um grande desafio para que os países possam intensificar o comércio intra-regional de forma mais eficiente e alcançar uma integração real é a falta de infraestrutura.

“Transporte rodoviário, fluvial, hidroviário e ferroviário, tudo isso é custo. Se um caminhão demora três dias para levar uma mercadoria ao seu destino, isso aumenta o preço e faz com que um bom produto deixe de ser competitivo no mercado. É nisso que os países precisam continuar trabalhando”, argumentou.

O papel da transformação digital

Abreu enfatizou a importância da transformação digital e disse que a Aladi está desenvolvendo uma plataforma digital destinada exclusivamente a micro, pequenas e médias empresas, que passam de 10 milhões na região.

A instituição internacional, com sede em Montevidéu e composta por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, também está investindo na facilitação do comércio, substituindo o papel pelo digital para acelerar os processos em um mundo cada vez mais rápido e dinâmico com relação aos prazos.

Para Abreu, a missão da Aladi é “tentar chegar aos povos e países mais vulneráveis” e ajudá-los para que possam tomar a melhor decisão para seguir em frente e progredir. EFE