O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. EFE/Arquivo/Sergey Dolzhenko

Zelensky quer Rússia isolada

Javier Otazu.

Nações Unidas (EFE).- Em uma sessão especial do Conselho de Segurança, a ONU deixou claro nesta terça-feira que não vai reconhecer o resultado dos referendos sobre a anexação de territórios ucranianos pela Rússia, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um apelo em prol do isolamento do país vizinho em todas as organizações internacionais.

Estes referendos “não podem ser considerados uma expressão genuína da vontade do povo (e) não podem ser vistos como legais sob o direito internacional”, disse a subsecretária-geral da ONU Rosemary DiCarlo, ao Conselho, lembrando, por exemplo, que nestas consultas “as autoridades ‘de facto’ estavam acompanhadas por soldados quando batiam de porta em porta com urnas eleitorais”.

Segundo os números divulgados hoje, uma maioria esmagadora (cerca de 98%) dos participantes desses referendos ilegais nos territórios controlados pela Rússia no leste e sul da Ucrânia votaram a favor da anexação, um resultado condenado por Kiev. O presidente russo, Vladimir Putin, podE agora formalizar a anexação nos próximos dias.

O presidente ucraniano, convidado a falar ao Conselho nesta sessão por videoconferência, disse que se a Rússia formalizar a anexação, significará por sua vez que “não há mais nada para negociar” com Putin a partir de agora.

Maior isolamento e mais sanções para a Rússia

Zelensky pediu à comunidade internacional para que endureça as sanções contra a Rússia e prossiga com seu isolamento internacional: primeiro, a retirando da participação permanente no Conselho de Segurança, com direito de veto, e depois a retirando de todas as organizações internacionais – e não for possível, bloqueando sua participação nelas.

A embaixadora dos Estados Unidos, Lynda Greensfield, disse que os EUA tentarão fazer com que o Conselho vote para condenar tais referendos e, em antecipação ao encontro do veto da Rússia, convocará a Assembléia Geral, como aconteceu duas vezes nos últimos meses, quando os representantes votaram esmagadoramente contra a invasão da Ucrânia.

O representante russo, Vasili Nebenzia, disse que os referendos foram realizados “de forma totalmente transparente e respeitando todas as normas internacionais”, negando acusações de intimidação de eleitores.

Ele acrescentou que cerca de 100 observadores internacionais de mais de 40 países ficaram “surpresos com o entusiasmo dos eleitores” e se perguntou por que a imprensa ocidental não mostrou esse caso.

China e Índia mantém neutralidade em relação à Rússia

Embora os referendos tenham trazido uma nova reviravolta ao conflito ucraniano, as posições não mudaram muito na ONU: os países da América Latina – Brasil e México – e os países africanos e árabes criticaram as consultas, mas sem se unirem à hostilidade os ocidentais ricos e, em vez disso, fizeram apelos genéricos para a negociação.

Além disso, como sempre na ONU, China e Índia também mantiveram uma equidistância que os referendos não mudaram, e hoje seus representantes sequer fizeram a menor alusão a estas consultas, apesar de eles terem sido o motivo da convocação da sessão no Conselho.

Como o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, fez no sábado passado, Nebenzia também se dirigiu aos países em desenvolvimento, pedindo que não sigam cegamente os EUA.

“Aos países em desenvolvimento, digo: não se enganem, o objetivo do Ocidente não é outro senão o colapso da Rússia, nunca levando em conta seus interesses”, declarou Nebenzia. EFE