Antonio Guterres nesta quarta-feira em Davos. EFE/GIAN EHRENZELLER

Guterres alerta em Davos para “epidemia de impunidade” evidenciada por Gaza e Ucrânia

Davos (EFE).- A invasão russa da Ucrânia e os conflitos na Faixa de Gaza e no Sudão, onde as partes em conflito ignoram o direito internacional e as Convenções de Genebra, mostram que o mundo sofre de uma “epidemia de impunidade”, afirmou nesta quarta-feira no Fórum de Davos o secretário-geral da ONU, António Guterres.

“O mundo permanece parado enquanto civis, na sua maioria mulheres e crianças, são assassinados, mutilados, bombardeados, expulsos das suas casas e lhes é negado o acesso à ajuda humanitária”, lamentou o chefe das Nações Unidas no seu discurso na cidade nos Alpes suíços onde estão reunidos líderes políticos e econômicos de todo o planeta.

Esta impunidade, segundo ressaltou, é uma consequência da atual fragmentação da comunidade internacional, que requer “instituições e marcos multilaterais e mecanismos eficazes de governança global”.

Guterres reconheceu, no entanto, que o sistema multilateral nascido depois da Segunda Guerra Mundial, e do qual a ONU é um dos principais expoentes, necessita de reformas profundas.

“Não se pode construir um futuro para os nossos netos com um aparato criado para nossos avós”, comentou.

Nesse sentido, o secretário-geral da ONU destacou que em setembro as Nações Unidas organizarão a chamada Cúpula do Futuro, focada em encontrar soluções para os grandes desafios que o mundo enfrenta atualmente, entre os quais destacou hoje a mudança climática e os desafios da inteligência artificial.

“A cúpula irá considerar reformas essenciais para a arquitetura financeira global (também nascida após a Segunda Guerra Mundial com o sistema de Bretton Woods) para que esta responda aos desafios de hoje e represente o mundo atual, incluindo muitos países do Sul Global que ainda eram colônias quando esse sistema foi criado”, destacou.

Guterres também defendeu reformas no Conselho de Segurança da ONU, outro dos pilares fundamentais do atual sistema multilateral, “para evitar e resolver conflitos, reequilibrar as relações geopolíticas e dar aos países em desenvolvimento uma voz proporcional no cenário mundial”.

Sobre o conflito de Gaza, Guterres insistiu na necessidade de um cessar-fogo imediato e na implementação de um processo baseado em uma solução de dois Estados, “a única forma de reduzir o sofrimento e evitar uma extensão do conflito que incendeie toda a região”. EFE