Anielle Franco durante uma entrevista à EFE em Madri. EFE/Fernando Alvarado

Anielle Franco diz em Madri que “extrema-direita não está para brincadeira”

Macarena Soto |

Madri (EFE).- A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua visita oficial à Espanha, advertiu nesta quarta-feira que a violência política no Brasil está longe de acabar, uma vez que “a extrema-direita não está para brincadeira”.

Segundo afirmou em entrevista à EFE em Madri a irmã da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em um crime ainda não solucionado, os partidos de extrema-direita no mundo todo usam as instituições “para insultar, agredir verbalmente e ameaçar” os adversários políticos.

Anielle citou como exemplo a forma como o partido de extrema-direita Chega recebeu Lula no Parlamento português na terça-feira, com faixas e gritos contra o presidente.

Além disso, lembrou de outro caso recente, a saída do Brasil do deputado Jean Willys, que recebeu ameaças de morte.

“Pelo menos, ele conseguiu sair”, comentou a ministra, antes de frisar que, caso contrário, “algo grave poderia ter acontecido com ele porque a extrema-direita no Brasil não está para brincadeira”.

Por isso, a ministra considera que “a violência política deve ser tratada como uma política pública”.

“Temos uma lei aprovada em 2021 porque temos vários deputados, principalmente mulheres, que sofreram graves ameaças, tiros em suas casas, seus carros. Não é algo que tem que ser apenas falado, tem que ter aplicação da lei”, destacou.

Combate ao racismo

Anielle Franco também disse acreditar que Lula entendeu a situação de “56% da população do país” que se declara negra ou parda, e sabe que “investimento e cuidado” devem ser direcionados a essas pessoas para ajudar a melhorar suas vidas.

Ao ser convidada a analisar a situação do racismo em Portugal e Espanha, opinou que enquanto no primeiro dos dois países “acreditam que ali não há racismo”, no segundo já existe essa percepção, embora não seja generalizada.

“São desconstruções que precisam ser feitas, sabemos que não será da noite para o dia, mas, sabendo que a Espanha está um pouco atrás do Brasil na luta contra o racismo, podemos unir forças”, ressaltou.

A brasileira relatou ainda que durante seu encontro de terça-feira com a ministra da Igualdade da Espanha, Irene Montero, se ofereceu para compartilhar campanhas contra o racismo, bem como para agendar um seminário sobre o tema nos dois países.

Nesse sentido, Anielle Franco viajará novamente à Espanha nos dias 8 e 9 de maio para assinar um acordo bilateral sobre temas como violência política e educação para lutar contra o racismo e a xenofobia.

O “legado” de Bolsonaro

Na conversa com a EFE, a ministra também afirmou que o atual governo encontrou coisas “devastadoras” depois que Lula derrotou o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições e assumiu o cargo em janeiro.

“Para a igualdade racial não houve investimento, para as mulheres foi muito pior, as casas que acolhem vítimas de violência de gênero, investimento zero; o aborto, que na América Latina tinha avançado, no Brasil recuou”, lamentou.

Nesse cenário, Anielle comentou que, se algo definiu o mandato de Bolsonaro, foram as “notícias falsas”, uma das “maiores atrocidades” do governo do ex-presidente.

“Isso e a violência política, que (seus seguidores e deputados) ainda continuam praticando no Parlamento, insultam, agridem verbalmente mulheres trans, dizem que vão bater, matar…”, criticou.

Apesar de “quatro anos desastrosos” de Bolsonaro que impedirão o Brasil de voltar a ser “menos polarizado e humanizado” no curto prazo, a ministra se mostrou otimista de que Lula pode voltar a unir o país.

“Temos que tentar sair da bolha e conversar com os demais, vai ser difícil, mas confio que o trabalho será feito”, completou. EFE