Santo Domingo (EFE).- O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pediu nesta sexta-feira que a Espanha atue, durante seu período na presidência da União Europeia, para que sejam concluídas as negociações sobre o acordo entre o Mercosul e o bloco.
Em entrevista concedida por telefone à Agência EFE durante a Cúpula Ibero-Americana, realizada na República Dominicana, Vieira disse que a Espanha “tem uma oportunidade única de apoiar o processo de conclusão do acordo”.
O ministro afirmou que o Brasil vê “com grande preocupação” as medidas “unilaterais”, especialmente as novas exigências ambientais em relação ao Mercosul, e “as críticas infundadas” que alguns países europeus têm feito à política ambiental do bloco sul-americano.
“A Espanha terá que ajudar a convencer os outros atores europeus a entender que estamos discutindo um acordo de associação, e não uma carta de adesão ou um ultimato sobre o que devemos ou não fazer internamente no Mercosul”, argumentou Vieira.
Ele enfatizou que a produção agrícola brasileira “é uma das mais sustentáveis do mundo” e destacou o “claro compromisso” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a sustentabilidade e o combate ao crime ambiental na Amazônia desde o primeiro dia de seu governo, em 1º de janeiro.
Ele também disse que a União Europeia “tem muito trabalho de casa a fazer na agenda da sustentabilidade”.
“Estamos totalmente de acordo com as preocupações sobre sustentabilidade e queremos trabalhar em conjunto com a Europa nesta agenda, mas estamos muito preocupados com a ênfase em medidas unilaterais e as críticas totalmente infundadas à sustentabilidade e à qualidade sanitária e técnica de nossos produtos”, declarou.
Vieira acrescentou que a Espanha “terá que ajudar a acalmar os impulsos protecionistas daqueles que querem fechar o mercado a qualquer custo” às exportações agrícolas dos países do Mercosul.
“Esperamos que a Espanha contribua para uma conversa equilibrada, baseada em fatos, que nos leve à conclusão bem sucedida do processo de negociação do acordo”, concluiu.
Mercosul e União Europeia assinaram um acordo de intenções em 2019, após duas décadas de negociações, mas ele não foi ratificado, e as equipes de negociação de ambos os blocos acabam de reabrir as conversas.
Os países do Mercosul, segundo Vieira, “também têm seus interesses e visões”, que são que o acordo permita a industrialização de seus integrantes.
Vieira também falou sobre as relações da UE com a América Latina como um todo, e argumentou que o progresso “depende de uma agenda muito específica que vai além dos discursos”.
Para ele, esta agenda consiste em acordos comerciais, como o Mercosul-UE, e cooperação e parceria em projetos como o Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega, “e não a adoção de sanções”.
“Se vamos lançar algo novo, tem que ser equilibrado e baseado no diálogo, e não com a intenção de prescrever receitas para o outro”, finalizou. EFE