A presidente das Avós da 'Plaza de Mayo' da Argentina, Estela de Carlotto, cumprimentou as mães mexicanas de desaparecidos, durante encontro na Cidade do México no dia 20/7. EFE/Mario Guzmán

Avós da Praça de Maio anunciam identificação do “neto 133”

Buenos Aires (EFE).- A organização Avós da Praça de Maio identificou o “133º neto” roubado pela ditadura argentina (1976-1983), segundo revelou nesta sexta-feira o coletivo, que concederá uma entrevista coletiva para ampliar os detalhes de “uma nova restituição” de identidade.

“Com imensa alegria, anunciamos a descoberta do neto 133”, diz o comunicado, que convoca um encontro com a imprensa no Espaço Memória e Direitos Humanos – antiga Escola de Mecânica da Marinha (ESMA), um dos maiores centros de detenção ilegal e tortura durante a ditadura -, no qual serão apresentados mais detalhes do caso.

“Quase 40 anos após o início do período democrático mais longo da nossa história, continuamos a procurar os nossos netos e netas, todos os dias. Cada restituição reafirma que o povo argentino nos acompanha e decide não esquecer”, acrescentou o texto sobre a primeira identificação ocorrida em 2023, já que as duas últimas datam de dezembro de 2022.

Desde 1977, a emblemática associação é composta por mulheres idosas que procuram os seus netos, filhos de desaparecidos que foram apropriados pelo regime e entregues a famílias alheias.

A associação, presidida por Estela de Carlotto, de 92 anos, calcula que cerca de 500 bebês foram roubados pela ditadura dos seus pais – a maioria opositores ao regime – e em muitos casos de mães que deram à luz em centros clandestinos de detenção e tortura e foram desaparecidas para sempre, assassinadas ou jogadas vivas, drogados, ao mar.

Segundo organizações de defesa dos direitos humanos, o terrorismo de Estado levou ao desaparecimento de cerca de 30.000 pessoas.

Em meados dos anos 80, as Avós promoveram a criação de um banco de dados para armazenar os seus perfis genéticos e garantir a identificação dos seus netos.

Em 1987, o Congresso criou por lei o Banco Nacional de Dados Genéticos, que desde então se encarrega de resolver a filiação das crianças apropriadas durante a última ditadura.

Ao longo deste tempo, o banco foi acrescentando técnicas avançadas de identificação genética e forense e, em 2009, foi aprovada uma nova lei que deu maior visibilidade à instituição.

A última vez que as Avós da Praça de Maio anunciaram a restituição da identidade de um bebê roubado foi em dezembro de 2022, quando apresentou – com poucos dias de intervalo – o “neto 131” – filho de Lucía Nadín e Aldo Hugo Quevedo, ambos desaparecidos em 1977 – e o “neto 132” – filho de Mercedes del Valle Morales, desaparecida em 1976.

Anteriormente, houve um período de três anos e meio sem recuperações, já que a última identificação havia ocorrido em 13 de junho de 2019, quando a organização apresentou publicamente Javier Matías Darroux, 41 anos, como “neto 130”. EFE