EFE/José Méndez

Trem Maia, a controversa esperança de desenvolvimento econômico para o sudeste do México

Cristina Sánchez Reyes.

Bacalar (EFE) – A esperança de que o Trem Maia, projeto símbolo da gestão do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, traga maior visibilidade e um crescimento econômico sem precedentes ao sudeste do país, tradicionalmente esquecido, é latente entre os habitantes locais, apesar dos impactos negativos em seu estilo de vida.

“Acho que ao trazer um benefício econômico bastante grande para toda a área, é óbvio que haverá uma melhora econômica e, portanto, o padrão de vida na área aumentará”, declarou em entrevista à Agência EFE o comissário do ejido (propriedade rural de uso coletivo) Laguna Guerrero, José Eduardo Angulo Cab, durante uma visita à área.

Angulo considerou que, para os produtores e habitantes da região, as obras do trem trouxeram uma bonança econômica sem precedentes desde o início dos trabalhos nos trechos 6, que vai de Tulum a Chetumal, de 255 quilômetros; e 7, que vai de Chetumal a Escárcega, com 254 quilômetros de extensão.

O Trem Maia prevê a construção de mais de 1.500 quilômetros de trilhos para transportar cargas, turistas e passageiros locais nos cinco estados do sudeste do país: Campeche, Chiapas, Quintana Roo, Tabasco e Yucatán.

“A renda já é diferente. Não é mais o que as pessoas costumavam ganhar na cidade, em um restaurante ou em qualquer outra empresa”, enfatizou, reconhecendo que muitas pessoas que costumavam trabalhar em canteiros de obras foram empregadas no Trem Maia e agora recebem “talvez o dobro” do que poderiam ganhar em qualquer outra empresa.

Por sua vez, o presidente do comissariado do ejido Península, Roberto Salgado Sangri,  disse que o trem gerou emprego em vários setores e que também beneficiou os ejidos pelos quais os trilhos passam, em referência a essas tradicionais propriedades rurais coletivas mexicanas, ligadas à reforma agrária do início do século XX.

“Isso os beneficiou em termos de pagamento pelas terras por onde passarão os trilhos do trem. Portanto, eles tiveram uma remuneração econômica pela venda de suas terras, o que é um impacto importante”, comentou.

Maior visibilidade

Com uma área de 5.400 hectares e uma diversidade de atrações naturais, o ejido La Península, no município de Othón P. Blanco, foi esquecido pelo governo por mais de 40 anos, segundo os ativistas.

Na verdade, ainda há áreas onde faltam serviços básicos, como eletricidade e água potável. Por isso, Salgado Sangri disse ter esperanças de que o Trem Maia possa tornar esses problemas visíveis e ajudar a resolvê-los.

Os agricultores também acreditam que o Trem Maia ajudará a reduzir o custo do transporte de seus produtos, como limões e pitaya, que atualmente são difíceis de comercializar por questões logísticas.

“Isso seria um grande benefício para nós, como produtores, porque se concentrarmos nossos produtos em Chetumal (a capital do estado) e de lá eles puderem ser levados, não sei, para o centro do país, para Tabasco, Chiapas, então acho que isso seria muito positivo para nós”, destacou Angulo.

Os ejidatarios lembraram ainda que esse megaprojeto também incentivou a compra de terras por pessoas que buscam promover o ecoturismo na área.

Impacto na mão de obra

No entanto, um dos efeitos colaterais desse projeto foi a redução da mão de obra rural, pois, de acordo com Angulo, as obras do trem pagam 500 pesos (quase US$ 28) por oito horas de trabalho.

“Como produtores, é um pouco difícil para nós conseguir pessoas para trabalhar no campo, porque o máximo que podemos pagar é 250 pesos (US$ 13,75), que é a metade do que eles pagam”, acrescentou.

Para Angulo, também há incertezas com relação ao que acontecerá após a conclusão do projeto, pois não se sabe em que as pessoas que atualmente trabalham nas obras do trem serão empregadas.

“Toda essa mão de obra que eles têm atualmente na área, qual será o plano do governo?”, questionou. EFE