Ignacio Ybáñez. EFE/Arquivo/André Borges

UE diz que aguarda propostas do Mercosul para avançar em acordo entre blocos

Carlos A. Moreno |

Rio de Janeiro (EFE) – A União Europeia (UE) sabe que o Mercosul tem reservas sobre as exigências ambientais que ela propôs para retomar as negociações comerciais entre os dois blocos, mas até agora não recebeu nenhuma contraproposta, disse o embaixador da bloco europeu no Brasil, Ignacio Ybáñez.

“Queremos ouvir, queremos ser flexíveis nas negociações, mas até agora nenhuma proposta nos foi apresentada”, disse Ybáñez em entrevista à Agência EFE.

O diplomata afirmou que o Mercosul quer reabrir algumas questões que pareciam ter sido acertadas, como as compras governamentais, mas que também não apresentou uma proposta sobre o que deseja.

“O importante é que apresentem propostas, porque é muito fácil criticar uma proposta que está na mesa, mas é muito difícil para a pessoa que a apresentou modificar alguma coisa se não sabe o que a outra parte realmente quer”, disse.

Os membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a UE retomaram nos últimos meses as negociações para fechar o acordo comercial entre os dois blocos, que foi concluído em nível técnico em 2019, após duas décadas de negociações, mas ainda está pendente de ratificação.

“Para nós, o importante é que eles apresentem suas propostas, pois adiamos algumas reuniões. Esperamos poder ter algum encontro no final de junho e ouvir o que o Mercosul quer para que possamos nos aproximar e encontrar uma solução”, afirmou.

Ybáñez enfatizou que o acordo com o Mercosul continua sendo a grande aposta da UE e que, apesar das complicações, considera a base acertada em 2019 muito boa, embora ainda falte definir o instrumento adicional que a Europa propôs sobre garantias ambientais.

“Queremos ter garantias de que as questões ambientais sustentáveis serão realmente respeitadas. Reconhecemos que a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe uma mudança radical nessa questão”, disse, referindo-se aos temores gerados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele disse que há elementos dessa proposta que o Mercosul não aceita, mas que é preciso conhecê-los para poder discuti-los.

“Nós dissemos que vamos ser flexíveis com a proposta que (o Mercosul) apresentar e tentar encontrar uma solução. Estamos cientes de que teremos de revisar nossa proposta porque ela não foi aceita e estamos abertos a modificá-la”, declarou.

Ele afirmou que, embora não haja prazos, o ideal seria aproveitar a cúpula que a UE realizará com a Comunidade dos Países da América Latina e do Caribe (Celac) em julho próximo, em Bruxelas, para impulsionar as negociações.

Sobre a resistência do Mercosul às demandas ambientais, Ybáñez disse que a reclamação que mais ouviu foi a suposta intenção da UE de forçar o bloco sul-americano a assumir compromissos que até agora não aceitaram em negociações internacionais.

“Eles (os membros do Mercosul) nos dizem que estamos tentando impor compromissos que vão além do que aceitaram em negociações internacionais e até mesmo além do que é discutido em nível multilateral”, explicou.

Já em relação à possibilidade de reabrir as negociações sobre questões já combinadas, como as compras governamentais, ele disse que o receio é que o equilíbrio alcançado no acordo de 2019 seja quebrado.

“Como temos que encerrar a questão do instrumento adicional pelo qual buscamos garantias ambientais, entendemos que novas propostas podem vir do Mercosul. Nós vamos analisá-las. Mas achamos que reabrir é quebrar um equilíbrio que é difícil de reconstruir”, concluiu. EFE