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América Latina é a região mais violenta para a infância, alerta Unicef

Cidade do Panamá, 26 dez (EFE).- Sem contar zonas de conflito, a América Latina e o Caribe são a região “mais violenta” do mundo para crianças, com números preocupantes que se agravaram após a pandemia de covid-19.

“A América Latina e o Caribe são a região mais violenta do mundo para uma criança, fora das zonas de conflito. E está mais violenta depois da pandemia”, disse à Agência EFE Laurent Duvillier, chefe de Comunicação do Unicef para a América Latina e o Caribe.

Duas em cada três crianças com menos de 14 anos na América Latina sofreram violência doméstica, uma situação que começa “muito cedo, mesmo em crianças com menos de um ano de idade”, disse Duvillier.

“Esta violência, durante toda a infância, perdura. Muda o cenário, mas perdura”, analisou o chefe de Comunicação.

Esta situação “começa em casa, depois na escola, na rua e especialmente nas meninas, o assédio sexual” e “normaliza-se, de modo que quando se tornam adultos, a violência é normal e repetida”.

A violência pode tornar-se mortal quando atinge a adolescência: a taxa regional de homicídios de crianças e adolescentes (12,6 por 100 mil) é quatro vezes superior à média mundial (3 por 100 mil), de acordo com os números fornecidos pelo Unicef à EFE.

América Latina: mais insegura e desigual

“A pandemia e o confinamento deixaram uma região (América Latina) para uma criança mais insegura, violenta, pobre, menos estável, com mais migração, menos saudável, mais desigual e com menos aprendizagem”, comentou Duvillier.

Na América Latina e no Caribe, a região mais desigual do mundo, quase 45% das crianças menores de 18 anos vivem na pobreza, uma proporção que excede a média da população geral da região, que é de 13%. Isto significa que “as crianças são mais vulneráveis a cair na pobreza”, destacou.

Uma em cada três famílias latino-americanas com crianças “não têm recursos financeiros suficientes para sobreviver mais de duas semanas, ou seja, têm um período de sobrevivência de curto prazo”, de acordo com os números do Unicef explicados por Duvillier.

Assim como “50% das famílias com crianças dizem que estão colocando menos comida no prato do que antes da pandemia”.

“Isto tem consequências na saúde, motivo pelo qual temos uma região menos saudável e com mais doenças. E também no desenvolvimento do cérebro e no desempenho na escola”, advertiu Duvillier.

Um “coquetel explosivo”

Duvillier enfatizou a “crise de aprendizagem” na região, com quatro em cada cinco alunos do sexto ano (entre 10 e 12 anos) incapazes de compreender um texto simples. Esta é uma das consequências diretas do fechamento de escolas, a “mais longa e contínua” do planeta.

“Este é um fato que terá implicações a longo prazo para o desenvolvimento econômico, a estabilidade social e política de toda a região”, alertou.

Segundo o Unicef, esta geração pode perder até 12% da renda ao longo da vida, ou uma perda coletiva de até US$ 2,3 trilhões, se não forem tomadas medidas urgentes para enfrentar a crise.

Em média, os estudantes latino-americanos têm um atraso de 1,5 ano na aprendizagem e, até o final deste ano, espera-se que os resultados dos testes de leitura e matemática caiam para níveis de mais de dez anos atrás. Tudo “isso é um coquetel explosivo”, alarmou.

Duvillier acrescentou que se não forem tomadas medidas urgentes, a América Latina terá “médicos que não sabem curar, engenheiros que não sabem construir uma ponte e professores que não sabem ensinar”.

“Irá também gerar uma escassez de mão de obra qualificada, o que resulta em uma migração para chamar pessoas do exterior, um enorme desafio para o motor do país”, concluiu. EFE