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“Greve da década” ganha força nas ruas do Reino Unido contra Sunak

Enrique Rubio.

Londres, 1 fev (EFE).- A concentração de greves nesta quarta-feira no Reino Unido – que envolve desde o setor educativo ao ferroviário e já é considerado o dia com maiores mobilizações no país desde 2011 – intensificou sua queda de braço contra o governo conservador de Rishi Sunak, que por enquanto segue firme em suas posições.

A estimativa é que meio milhão de pessoas aderiram às greves que, ainda que não tenham paralisado completamente o país, alteraram significativamente o cotidiano de grande parte dos britânicos.

Se os ferroviários estão em greve há meses, a grande novidade de hoje foi a incorporação à mobilização social de professores de escolas da Inglaterra e do País de Gales, bem como de 100.000 funcionários públicos de vários departamentos ministeriais.

Segundo o Sindicato Nacional da Educação (NEU), cerca de 300.000 professores aderiram à greve. Já o Ministério da Educação informou que, segundo os seus dados, uma em cada dez escolas não conseguiu abrir as portas, enquanto 45% delas tiveram de restringir as aulas.

Os professores realizaram uma manifestação massiva pelas ruas do centro de Londres para expressar seu descontentamento com a perda de poder aquisitivo sofrida nos últimos anos e agravada pela inflação, que em dezembro do ano passado situou-se em 10,5%.

“Dou aulas há mais de 15 anos e estivemos em austeridade a maior parte desse tempo. Agora, mais do que nunca, devemos defender nossos direitos. Não se trata apenas de professores e de seus salários, trata-se de um sistema educacional que foi dizimado nos últimos anos”, disse à EFE a professora Katie Pierce, participante do protesto.

Ao lado dela, sua companheira Jane Vassal reconheceu que esta era a primeira manifestação da qual participava em sua vida.

E ambas chamaram a atenção, como a maioria dos presentes, para a “armadilha” que consideram que o Executivo britânico armou para que possam melhorar seus salários.

“A única alternativa salarial que o governo nos dá vem do orçamento de cada escola, o que significa que, se aumentarmos o salário, será às custas do dinheiro que está destinado para as crianças”, explicou Pierce.

SUNAK NÃO CEDE.

Apesar de a temperatura subir nas ruas, Sunak, que completará cem dias como primeiro-ministro nesta quinta-feira, não parece transigir.

Sua posição, como não se cansa de repetir, está assentada em um fundamento claro: se os salários aumentarem à medida que cresce a inflação, esta nunca vai baixar.

Na sessão de controle ao governo de hoje no Parlamento, o primeiro-ministro afirmou que os professores acabam de receber “o maior aumento dos últimos 30 anos”, e defendeu que “as crianças merecem poder ir à escola”.

Além disso, não perdeu a oportunidade de lançar um dardo na direção da oposição trabalhista e de seu líder, Keir Starmer: “O partido à frente faria bem em dizer que greves não são certas e apoiar que as crianças voltem às escolas”.

Fontes de Downing Street, o gabinete do primeiro-ministro, posteriormente reforçaram essa ideia, lembrando que “hoje muitas crianças não podem receber a educação de que precisam, especialmente considerando que durante a pandemia tantas perderam aulas”.

Estas mesmas fontes insistem que o Executivo vai continuar cumprindo as recomendações feitas pelo órgão independente que anualmente estabelece as orientações salariais dos funcionários públicos.

Nos três meses anteriores a novembro, os salários do setor privado subiram em média 7,1% em relação ao ano anterior, enquanto no setor público a alta ficou em 3,3%.

Depois de meses de conflito social, a situação não parece estar avançando e novas greves são esperadas nos próximos meses, como de enfermeiras e equipes de ambulâncias.

Além disso, a intenção do governo de aprovar uma lei no Parlamento que introduziria serviços mínimos em caso de greve colocou pela primeira vez em pé de guerra os sindicatos, que prometem continuar lutando. EFE